sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Get Bold, Barak

Get Bold, Barack
Ouse, Barack
By ROGER COHEN
texto traduzido: Viomundo

WASHINGTON — I was among the early and strong supporters of Barack Obama. America was stuck and it seemed to me he could take the country forward into the 21st century, which began so tragically in downtown New York and here in the nation’s capital. Like many, at midterm, I’m struggling with my disappointment.

Washington — Estive entre os primeiros e maiores apoiadores de Barack Obama. Os Estados Unidos estavam entrevados e me pareceu que ele poderia levar o país adiante no século 21, que começou tão tragicamente em Nova York e aqui na capital da Nação. Como muitos, na metade do mandato, estou enfrentando minha decepção

I’ve asked myself: Would Hillary Clinton, experienced and attuned to blue-collar America, have been stronger and more capable of lifting the national mood? I’ve thought to myself: Is it unfair to feel this disillusionment given the scale of Obama’s inherited problems? And I’ve wondered, given the visceral disrespect for the president from the Tea Party — a foul scorn full of innuendo that skirts the boundaries of racism — whether Obama could have done anything to reach across the aisle?

Já me perguntei: será que Hillary Clinton, experiente e ligada aos Estados Unidos blue-collar [nota do Viomundo: trabalhadores de colarinho azul, em geral de classe média baixa] teria sido mais forte e mais capaz de levantar o moral nacional? Já me perguntei: será injusto sentir desilusão com a escala dos problemas herdados pelo Obama? E me perguntei, dado o desrespeito visceral pelo presidente que vem do Tea Party — um desprezo mal cheiroso, cheio de sugestões que beiram o racismo — se Obama poderia ter feito qualquer coisa para se aproximar dos adversários?

To all these questions, at different times, I’ve had different answers. No, says one voice, get over it, he’s doing the best he could to lift America from the double whammy of war and economic meltdown. He’s smart and curious — and, anyway, just consider the mystical-nationalist-insular alternative.

Para todas estas perguntas, em momentos diferentes, tive diferentes respostas. Não, diz uma voz, esqueça, ele está fazendo o que pode para tirar os Estados Unidos de duas pancadas — da guerra e do derretimento econômico. Ele é inteligente e curioso — e, de qualquer forma, é preciso considerar a alternativa mística-insular-nacionalista.

Oh yeah, says another, he’s too cool a customer, a beguiling construct more than flesh and blood, an empty vessel for a misplaced idealism, a politician averse to pressing the flesh (and what else is politics?), a man who — not for nothing — tilts his chin upward when he speaks.

Ah, sim, diz outra resposta, ele é muito “cool”, uma construção mais do que uma pessoa de carne e osso, uma nave vazia para carregar idealismo, um político que não gosta de se relacionar com os eleitores (e o que mais é a política?), um homem que — não por nada — levanta o queixo quando fala.

Back and forth go the voices, but there’s no getting away from the disappointment. This president feels flat — and somehow not quite genuine. He should place above his bed the words of Jonathan Alter: “Logic can convince but only emotion can motivate.”

As vozes vão e vem, mas não tem como me afastar da desilusão. Este presidente parece vazio — e às vezes nem mesmo genuíno. Ele deveria colocar sobre a cama as palavras de Jonathan Alter: “A lógica pode convencer mas apenas a emoção pode motivar”.

On arriving in New York from London, I went to a party on the Upper East Side. It was a well-heeled crowd, almost all Obama supporters a couple of years back. “The guy’s a phony,” one guest said. “We need a Bloomberg, somebody who can manage,” said another, referring to the billionaire mayor of New York. “All this Clinton nostalgia, it’s because Obama is a loner, not interested in people,” said a third.

Ao chegar a Nova York vindo de Londres, fui a uma festa no Upper East Side [nota do Viomundo: reduto dos liberais de Nova York, onde morei na 83 com a Segunda, nos anos 80]. Era uma multidão de gente bem de vida, quase toda formada por apoiadores de Obama há alguns anos. “Ele é uma enganação”, um convidado disse. “Precisamos de um Bloomberg, alguém que saiba gerenciar”, disse outro, se referindo ao prefeito bilionário de Nova York. “Toda esta nostalgia em torno do Clinton é causada porque Obama é um solitário, não tem interesse nas pessoas”, disse um terceiro.

I was a struck by how people aren’t sure where Obama’s headed. There’s no narrative to the presidency. It was about believable change. Now the president seems less a passionate change agent than a careful calculator unsure of his core beliefs. In London, you know what Prime Minister David Cameron is about: rowing back the state and slashing the deficit. Agree or disagree, there’s a narrative. It helps.

Fiquei surpreso pela fato de que as pessoas não sabem qual é o caminho desejado por Obama. Não existe narrativa nesta presidência. Era sobre mudança em que se podia acreditar. Agora o presidente parece menos apaixonado pela ideia de ser um agente de mudança e mais um calculista incerto de suas crenças principais. Em Londres, sabemos o que o primeiro-ministro David Cameron quer: reduzir o estado e cortar o déficit. Concorde ou não, é a narrativa. Ajuda.

Another foreign leader came to mind, President Luiz Inácio Lula da Silva of Brazil, now about to leave office after an extraordinary presidency. Here are two outsider politicians with lullaby-like names and the kinds of faces not previously seen on their nations’ banknotes, breaking molds of race or class. But there the resemblance ends.

Outro líder estrangeiro do qual me lembrei, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva do Brasil, que agora está próximo de deixar o poder depois de uma presidência extraordinária. Aqui estão dois políticos de fora do círculo de poder, com nomes fáceis de pronunciar e com rostos diversos dos que apareciam nas notas do dinheiro de suas nações, quebrando modelos de raça ou classe. Mas a comparação termina aí.

Lula proved all of a piece — one of eight children from the impoverished far north of Brazil, a former steelworker who repaired social fracture in one of the world’s most unequal societies. Obama has so far failed that critical authenticity test.

Lula experimentou de tudo — um de oito filhos do norte empobrecido do Brasil, um ex-operário metalúrgico que reparou a fratura social de uma das sociedades mais desiguais do mundo. Obama até agora fracassou no teste crítico de autenticidade.

There was an anti-establishment frisson to Obama, the black man who battled to overcome prejudice and America’s “original sin” to win the nation’s highest office. Yet he has revealed himself as an elite product of America’s elite schools, a politician who built his image with great intelligence but shows little taste for the nitty-gritty. Bipartisanship, when it’s not just oratory, begins with small gestures.

Havia um frisson anti-establishment no Obama, o homem negro que batalhou para superar preconceito e o “pecado original” dos Estados Unidos para conquistar o cargo mais importante do país. Ainda assim ele se revelou um produto da elite e das escolas de elite dos Estados Unidos, um político que construiu sua imagem com grande inteligência mas mostra pouco apetite pelos detalhes. Bipartidarismo, quando não é apenas oratória, começa com pequenos gestos.

I was talking to a Democratic Party donor, a Kansas City businessman. He said he’s given over $30,000 to Obama — and not a word of thanks. He was irritated. Lots of people think this president is too smug to write thank-you notes or make quick courtesy calls.

Estive conversando com um pequeno doador do Partido Democrata, um empresário de Kansas City. Ele deu 30 mil dólares para Obama e não recebeu uma nota de agradecimento. Está irritado. Muita gente acha que o presidente é muito convencido para escrever notas de agradecimento ou fazer chamadas de cortesia.

After the inevitable midterm defeat, Obama needs to make some decisions. He’s stuck on the 20-yard line in domestic and foreign policy. The facile attacks on “fat-cat bankers” have to end. They don’t convince the left and they infuriate the right. Prosecute, by all means, but don’t rail. And remember that Americans get good housekeeping in the end. One $787 billion fiscal injection is enough.

Depois da derrota inevitável nas eleições do meio de mandato, Obama precisa tomar algumas decisões. Ele está preso na defesa nas questões domésticas e de política externa. Os ataques fáceis nos “banqueiros gordos” precisam acabar. Eles não convencem a esquerda e deixam a direita furiosa. Processe-os, por todos os meios, mas deixe de falar. E lembre que os americanos tiveram uma boa limpeza doméstica. Uma injeção fiscal de 787 bilhões de dólares é suficiente.

Americans are trying to de-leverage. They’ll follow a president who says extending tax cuts for the rich is madness. They might buy a consumption tax. But the president has to lead.

Os americanos estão tentando se livrar das dívidas. Eles seguirão um presidente que diz que estender os cortes de impostos para os ricos é loucura [nota do Viomundo: herança deixada por George W. Bush]. Os americanos podem até aceitar impostos sobre o consumo. Mas o presidente precisa liderar.

Obama is confronting an international conviction that he’s hesitant. The agonizing review that led to the Afghan surge left an impression of uncertainty. In the end we got what some have called the Groucho Marx Hello, I Must be Going! plan, a brief reinforcement to be reversed in time for the 2012 campaign. In the Middle East, too, domestic politics have trumped change, with resulting equivocation and familiar paralysis.

Obama está enfrentando uma convicção internacional de que é hesitante. A revisão da estratégia que levou ao aumento das tropas no Afeganistão deixou uma impressão de incerteza. No final recebemos o que alguns chamaram de plano do Groucho Marx — Alô, estou de saída — um reforço que será revertido a tempo da campanha de 2012. No Oriente Médio, também, a política doméstica evitou mudanças, resultando em erros e a familiar paralisia.

Boldness characterized Obama’s campaign; only that will get him re-elected in 2012. He needs to invigorate his team with doers rather than thinkers. He needs to become serious about balancing the budget. He needs a foreign policy that reflects a changed world not a churlish Congress.

A ousadia marcou a campanha de Obama; só ela poderá reelegê-lo em 2012. Ele precisa revigorar sua equipe com “fazedores” em vez de “pensadores”. Ele precisa encarar com seriedade o equilíbrio do orçamento. Ele precisa de uma política externa que reflita um mundo em mudança, não um Congresso dividido.

And he must admit to himself that perhaps the disappointed are not misguided but rational, even scientific — words he likes

E ele precisa admitir que talvez os decepcionados com ele não são mal aconselhados, mas racionais e até mesmo científicos — palavras das quais ele tanto gosta.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010