domingo, 27 de fevereiro de 2011

Uprisings: From the Middle East to the Midwest



By Amy Goodman

 

Tradução: Katarina Peixoto



As many as 80,000 people marched to the Wisconsin state Capitol in Madison on Saturday as part of an ongoing protest against newly elected Republican Gov. Scott Walker’s attempt to not just badger the state’s public employee unions, but to break them. The Madison uprising follows on the heels of those in the Middle East. A sign held by one university student, an Iraq War vet, read, “I went to Iraq and came home to Egypt?” Another read, “Walker: Mubarak of the Midwest.” 

Cerca de 80 mil pessoas marcharam no sábado passado ao Capitólio do estado de Wisconsin, em Madison, como parte de uma crescente onda de protesto contra a tentativa do flamante governador republicano Scott Walker, não só de acossar os sindicatos dos servidores públicos, mas de desarticulá-los. O levante popular de Madison ocorre imediatamente em seguida aos que vêm ocorrendo no Oriente Médio. Um estudante universitário veterano da guerra do Iraque, levava um cartaz que dizia “Fui ao Iraque e voltei a minha casa no Egito?”. Outro dizia: “Walker, o Mubarak do Meio Oeste”.

Likewise, a photo has circulated in Madison of a young man at a rally in Cairo, with a sign reading, “Egypt supports Wisconsin workers: One world, one pain.” Meanwhile, Libyans continue to defy a violent government crackdown against masses seeking to oust longtime dictator Moammar Gadhafi, and more than 10,000 marched Tuesday in Ohio to oppose Republican Gov. John Kasich’s attempted anti-union legislative putsch.

Do mesmo modo, em Madison, circulou uma foto de um jovem em uma manifestação no Cairo com um cartaz que dizia: “Egito apoia os trabalhadores de Wisconsin: o mesmo mundo, a mesma dor”. Enquanto isso, em uma tentativa de derrubar o eterno ditador Muammar Kadafi, os líbios seguem desafiando a violenta ofensiva do governo, ao mesmo tempo que mais de 10 mil pessoas marcharam terça-feira em Columbus, Ohio, para se opor à tentativa do governador republicano John Kasich de dar um golpe de estado legislativo contra os sindicatos.


Just a few weeks ago, solidarity between Egyptian youth and Wisconsin police officers, or between Libyan workers and Ohio public employees, might have elicited a raised eyebrow.

Há apenas algumas semanas, a solidariedade entre jovens egípcios e policiais do Wisconsin, ou entre trabalhadores líbios e funcionários públicos de Ohio, seria algo inacreditável.

The uprising in Tunisia was sparked by the suicide of a young man named Mohamed Bouazizi, a 26-year-old university graduate who could not find professional work. Selling fruits and vegetables in the market, he was repeatedly harassed by Tunisian authorities who eventually confiscated his scale. Unbearably frustrated, he set himself on fire, a spark that ignited the protests that became the wave of revolution in the Middle East and North Africa. For decades in the region, people have lived under dictatorships—many that receive U.S. military aid—suffering human-rights abuses along with low income, high unemployment and almost no freedom of speech. All this, while the elites amassed fortunes.

O levante popular na Tunísia foi provocado pelo suicídio de um jovem chamado Mohamed Bouazizi, universitário de 26 anos de idade, que não encontrava trabalho em sua profissão. Enquanto vendida frutas e verduras no mercado, em repetidas oportunidades foi vítima de maus tratos por parte das autoridades tunisianas que acabaram confiscando sua balança. Completamente frustrado, ele ateou-se fogo, o que acabou incendiando os protestos que se converteram em uma onda revolucionária no Oriente Médio e Norte da África. Durante décadas, o povo da região viveu sob ditaduras – muitas das quais recebem ajuda militar dos EUA -, sofreu violações dos direitos humanos, além de ter baixa renda, enfrentar altas taxas de desemprego e não ter praticamente nenhuma liberdade de expressão. Tudo isso enquanto as elites acumulavam fortunas.

Similar grievances underlie the conflicts in Wisconsin and Ohio. The “Great Recession” of 2008, according to economist Dean Baker, is now in its 37th month, with no sign of relenting. In a recent paper, Baker says that, due to the financial crisis, “many political figures have argued the need to drastically reduce the generosity of public sector pensions, and possibly to default on pension obligations already incurred. Most of the pension shortfall ... is attributable to the plunge in the stock market in the years 2007-2009.”

Nos conflitos que vemos hoje em Wisconsin e Ohio há um pano de fundo semelhante. A “Grande Recessão” de 2008, segundo o economista Dean Baker, ingressou em seu trigésimo mês sem sinais de melhora. Em um documento recente, Baker diz que devido à crise financeira “muitos políticos argumentam que é necessário reduzir de forma drástica as generosas aposentadorias do setor público e, se possível, não cumprir com as obrigações de pensões já assumidas. Grande parte do déficit no sistema de aposentadorias se deve à queda da bolsa de valores nos anos 2007-2009”.

In other words, Wall Street hucksters, selling the complex mortgage-backed securities that provoked the collapse, are the ones who caused any pension shortfall. Pulitzer Prize-winning journalist David Cay Johnston said recently: “The average Wisconsin state employee gets $24,500 a year. That’s not a very big pension ... 15 percent of the money going into it each year is being paid out to Wall Street to manage the money. That’s a really huge high percentage to pay out to Wall Street to manage the money.”

Em outras palavras, os mascates de Wall Street que vendiam as complexas ações respaldadas por hipotecas que provocaram o colapso financeiro foram os responsáveis pelo déficit nas pensões. O jornalista vencedor do prêmio Pulitzer, David Cay Johnston disse recentemente: “O funcionário público médio de Wisconsin ganha 24.500 dólares por ano. Não se trata de uma grande aposentadoria; 15% do dinheiro destinado a esta aposentadoria anualmente é o que se paga a Wall Street para administrá-lo. É realmente uma porcentagem muito alta para pagar Wall Street por administrar o dinheiro”.


So, while investment bankers skim a huge percentage off pension funds, it’s the workers who are being demonized and asked to make the sacrifices. Those who caused the problem, who then got lavish bailouts and now are treated to huge salaries and bonuses, are not being held accountable. Following the money, it turns out Walker’s campaign was funded by the notorious Koch brothers, major backers of the tea party organizations. They also gave $1 million to the Republican Governors Association, which gave substantial support to Walker’s campaign. Is it surprising that Walker supports corporations with tax breaks, and has launched a massive attack on unionized, public-sector employees?

Então, enquanto a banca financeira fica com uma enorme porcentagem dos fundos de aposentadoria, os trabalhadores são demonizadas e pede-se a eles que façam sacrifícios. Os que provocaram o problema, em troca, logo obtiveram resgates generosos, agora recebem altíssimos salários e bonificações e não estão sendo responsabilizados. Se rastreamos a origem do dinheiro, vemos que a campanha de Walker foi financiada pelos tristemente célebres irmãos Koch, grandes patrocinadores das organizações que formam o movimento conservador tea party. Além disso, doaram um milhão de dólares para a Associação de Governadores Republicanos, que concedeu um apoio significativo à campanha de Walker. Então, por acaso resulta surpreendente que Walker apoie às empresas ao outorgar-lhes isenções se impostos e que tenha lançado uma grande campanha contra os servidores do setor público sindicalizado?

One of the unions being targeted by Walker, and by Kasich in Ohio, is AFSCME, the American Federation of State, County and Municipal Employees. The union was founded in 1932, in the midst of the Great Depression, in Madison. Its 1.6 million members are nurses, corrections officers, child-care providers, EMTs and sanitation workers. It is instructive to remember, in this Black History Month, that it was the struggle of the sanitation workers of AFSCME local No. 1733 that brought Dr. Martin Luther King Jr. to Memphis, Tenn., back in April 1968. As Jesse Jackson told me as he marched with students and their unionized teachers in Madison on Tuesday: “Dr. King’s last act on earth, marching in Memphis, Tenn., was about workers’ rights to collective bargaining and rights to dues checkoff. You cannot remove the roof for the wealthy and remove the floor for the poor.”

Um dos sindicatos que Walter e Kasich têm na mira, em Ohio, é a Federação Estadunidense de Empregados Estatais de Condados e Municípios (AFSCME, na sigla em inglês). O sindicato foi fundado em 1932, em meio à Grande Depressão, em Madison. Tem 1,6 milhões de filiados, entre os quais há enfermeiros, servidores penitenciários, seguranças, técnicos de emergências médicas e trabalhadores da saúde. Vale a pena lembrar, neste mês da História Negra, que a luta dos trabalhadores da saúde do prédio n° 1733 de AFSCME fez com que o Dr. Martin Luther King Jr. Fosse a Memphis, Tennessee, em abril de 1968. Como me disse o reverendo Jesse Jackson quando marchava com os estudantes e seus professores sindicalizados, em Madison, na semana passada: “O último ato do Dr. King na terra, sua viagem a Memphis, Tennessee, foi pelo direito dos trabalhadores negociarem convênios coletivos de trabalho e o direito ao desconto da quota sindical de seu salário. Não é possível beneficiar os ricos enquanto se deixa os pobres sem nada”.

The workers of Egypt were instrumental in bringing down the regime there, in a remarkable coalition with Egypt’s youth. In the streets of Madison, under the Capitol dome, another demonstration of solidarity is taking place. Wisconsin’s workers have agreed to pay and pension concessions, but will not give up their right to collective bargaining. At this point, Walker would be wise to negotiate. It is not a good season to be a tyrant.


Os trabalhadores do Egito, formando uma coalizão extraordinária com os jovens, tiveram um papel decisivo na derrubada do regime deste país. Nas ruas de Madison, sob a cúpula do Capitólio, está se produzindo outra mostra de solidariedade. Os trabalhadores de Wisconsin fizeram concessões em seus salários e aposentadorias, mas não renunciaram ao direito a negociar convênios coletivos de trabalho. Neste momento seria inteligente que Walker negociasse. Não é uma boa época para os tiranos.


Amy Goodman is the host of “Democracy Now!,” a daily international TV/radio news hour airing on more than 900 stations in North America. She is the author of “Breaking the Sound Barrier,” recently released in paperback and now a New York Times best-seller.

© 2011 Amy Goodman

Distributed by King Features Syndicate