sábado, 28 de agosto de 2010

EUA somem na escuridão - America goes dark


America goes dark
EUA somem na escuridão
Por Paul Krugman
8 de agosto de 2010




The lights are going out all over America — literally. Colorado Springs has made headlines with its desperate attempt to save money by turning off a third of its streetlights, but similar things are either happening or being contemplated across the nation, from Philadelphia to Fresno.

As luzes se apagam em todo Estados Unidos. A cidade de Colorado Springs estampou nas manchetes dos jornais locais sua intenção desesperada de economizar dinheiro apagando um terço de seus semáforos, mas estão acontecendo coisas parecidas em todo o país, desde a Filadélfia até Fresno.

Meanwhile, a country that once amazed the world with its visionary investments in transportation, from the Erie Canal to the Interstate Highway System, is now in the process of unpaving itself: in a number of states, local governments are breaking up roads they can no longer afford to maintain, and returning them to gravel.

Contudo, um país que assombrou o mundo com seus visionários investimentos nos transportes, desde o canal de Erie até o sistema de autopistas interestatais, agora se encontra em um processo de despavimentação: em vários estados, os governos locais estão destruindo estradas que não já não podem mais manter e reduzindo-as a cascalho.

And a nation that once prized education — that was among the first to provide basic schooling to all its children — is now cutting back. Teachers are being laid off; programs are being canceled; in Hawaii, the school year itself is being drastically shortened. And all signs point to even more cuts ahead.

E uma nação que outrora valorizava a educação, que foi uma das primeiras a oferecer escolarização básica a todas as suas crianças, agora está fazendo cortes. Os professores estão sendo despedidos e os programas cancelados. No Havaí, até o curso escolar está acabando de maneira drástica. E tudo indica que no futuro mais ajustes serão feitos.

We’re told that we have no choice, that basic government functions — essential services that have been provided for generations — are no longer affordable. And it’s true that state and local governments, hit hard by the recession, are cash-strapped. But they wouldn’t be quite as cash-strapped if their politicians were willing to consider at least some tax increases.

Dizem-nos que não temos eleição, que as funções governamentais básicas – serviços essenciais proporcionados durante gerações – já não são viáveis. E é certo que os governos estaduais e locais, duramente açoitados pela recessão, estão sem recursos. Mas não estariam assim se seus políticos estivessem dispostos a considerar ao menos alguns aumentos de impostos.

And the federal government, which can sell inflation-protected long-term bonds at an interest rate of only 1.04 percent, isn’t cash-strapped at all. It could and should be offering aid to local governments, to protect the future of our infrastructure and our children.

E no governo federal, que pode vender bônus a longo prazo protegidos contra a inflação, com uma taxa de juros básica de 1,04%, não gasta o dinheiro. Poderia e deveria oferecer ajuda aos governos locais e proteger o futuro de nossas infraestruturas e de nossos filhos.

But Washington is providing only a trickle of help, and even that grudgingly. We must place priority on reducing the deficit, say Republicans and “centrist” Democrats. And then, virtually in the next breath, they declare that we must preserve tax cuts for the very affluent, at a budget cost of $700 billion over the next decade.
Mas Washington está prestando ajuda aos poucos, e até isso o faz a contragosto. Devemos dar prioridade à redução do déficit, dizem os republicanos e os democratas centristas. E logo, quase em seguida, afirmam que devemos manter as subvenções fiscais para os ricos, o que terá um custo previsto de 7 bilhões de dólares durante a próxima década.

In effect, a large part of our political class is showing its priorities: given the choice between asking the richest 2 percent or so of Americans to go back to paying the tax rates they paid during the Clinton-era boom, or allowing the nation’s foundations to crumble — literally in the case of roads, figuratively in the case of education — they’re choosing the latter.

Na prática, boa parte de nossa classe política está demonstrando quais são suas prioridades: quando podem escolher entre pedir que 2% dos estadounidenses mais abastados voltem a pagar os mesmos impostos que durante a expansão da Era Clinton ou permitir que derrubem a estrutura da nação – de maneira literal no caso das estradas e figurada no caso da educação -, preferem este último.

It’s a disastrous choice in both the short run and the long run. In the short run, those state and local cutbacks are a major drag on the economy, perpetuating devastatingly high unemployment.

É uma decisão desastrosa tanto a curto como a longo prazo. A curto prazo, esses cortes estatais e locais implicam um pesado empecilho para a economia e perpetuam o desemprego, que é devastadoramente elevado.

It’s crucial to keep state and local government in mind when you hear people ranting about runaway government spending under President Obama. Yes, the federal government is spending more, although not as much as you might think. But state and local governments are cutting back. And if you add them together, it turns out that the only big spending increases have been in safety-net programs like unemployment insurance, which have soared in cost thanks to the severity of the slump.
É crucial que os governos estaduais e locais tenham em mente as duras críticas da população a respeito do elevado o gasto público durante o governo Obama. Sim, o governo federal estadounidense gasta, ainda que não tanto como pensam. Mas os governos estatais e locais estão fazendo cortes. E, se somamos, o resultado é que os únicos incrementos relevantes no gasto público foram com programas de proteção social, como o seguro-desemprego, cujos custos dispararam por culpa da gravidade da crise econômica.

That is, for all the talk of a failed stimulus, if you look at government spending as a whole you see hardly any stimulus at all. And with federal spending now trailing off, while big state and local cutbacks continue, we’re going into reverse.

Isso quer dizer que, apesar do que dizem sobre o fracasso do estímulo, se observamos o gasto governamental em seu conjunto, não vemos estímulo algum. E agora que o gasto federal está reduzido, ao passo que os grandes recortes de gastos estatais e locais continuam, vamos para trás.

But isn’t keeping taxes for the affluent low also a form of stimulus? Not so you’d notice. When we save a schoolteacher’s job, that unambiguously aids employment; when we give millionaires more money instead, there’s a good chance that most of that money will just sit idle.

Mas não é também uma forma de estímulo manter os impostos baixos para os ricos? Não se percebe isso. Quando salvamos o posto de trabalho de um professor, isso ajuda o nível de emprego sem dúvida; quando, ao contrário, damos mais dinheiro aos multimilionários, é muito possível que a maior parte desse dinheiro fique imobilizada.

And what about the economy’s future? Everything we know about economic growth says that a well-educated population and high-quality infrastructure are crucial. Emerging nations are making huge efforts to upgrade their roads, their ports and their schools. Yet in America we’re going backward.

E sobre o futuro da economia? Tudo o que sabemos sobre o crescimento econômico diz que uma população culta e uma infraestrutura de alta qualidade são cruciais para o crescimento. As nações emergentes estão realizando enormes esforços para melhorar suas estradas, portos e colégios. Contudo, nos EUA estamos recuando.

How did we get to this point? It’s the logical consequence of three decades of antigovernment rhetoric, rhetoric that has convinced many voters that a dollar collected in taxes is always a dollar wasted, that the public sector can’t do anything right.

Como chegamos a esse ponto? É a consequência lógica de três décadas de retórica antigovernamental, uma retórica que convenceu numerosos eleitores de que um dólar arrecadado por impostos é sempre um dólar mal gasto, que o setor público é incapaz de fazer algo bem feito.

The antigovernment campaign has always been phrased in terms of opposition to waste and fraud — to checks sent to welfare queens driving Cadillacs, to vast armies of bureaucrats uselessly pushing paper around. But those were myths, of course; there was never remotely as much waste and fraud as the right claimed. And now that the campaign has reached fruition, we’re seeing what was actually in the firing line: services that everyone except the very rich need, services that government must provide or nobody will, like lighted streets, drivable roads and decent schooling for the public as a whole.

A campanha contra o governo sempre planteou como uma oposição à fraude, aos cheques enviados a rainhas da segurança social que conduzem luxuosos cadillacs e a grandes exércitos de burocratas que, de um lado a outro, movem documentos inutilmente. Mas isso são mitos; nunca houve tanta fraude como assegurava a direita. E agora que a campanha começa a dar frutos, vemos o que realmente havia na linha do fogo: serviços que todos, exceto os muito ricos, necessitam, serviços que devem ser proporcionados pelo governo, como reformas nas ruas, estradas transitáveis e escolarização decente para todos os cidadãos.

So the end result of the long campaign against government is that we’ve taken a disastrously wrong turn. America is now on the unlit, unpaved road to nowhere.

Portanto, o resultado final da prolongada campanha contra o governo é que demos um passo desastrosamente equivocado. Agora, os EUA transitam por uma estrada escura, sem luz, e sem asfalto, que não leva a lugar nenhum.

Tradução: André Rossi. Artigo traduzido de http://www.rebelion.org/noticia.php?id=111874. Fonte : http://www.attac.es/ee-uu-se-sume-en-la-oscuridad/.

Nenhum comentário:

Postar um comentário